Acorda bailarina, acorda

Morri

Chuva

Dizem que quem está na chuva é pra se molhar, mas quero aqui dizer, que só se molha quem quiser. Eu estou aqui para vender meus guarda-chuvas. 
Tenho vários modelos, várias cores. Pode chegar freguês! Tem guarda-chuva pequeno, de cabo grande, de rendinha, de bolinhas azuis, vermelhas, amarelas; guarda-chuva preto, guarda-chuva branco, automático, de cabo de borracha, cabo banhado a ouro… Pode chegar freguês, é guarda-chuvas de todos os modelos… mulher bonita não paga… mas também não leva. 
Guarda-chuva, guarda-chuva, guarda-chuva… pode chegar freguês. Se não for pra dias chuvosos, pode ser usado nos dias ensolarados também. Guarda-chuva, guarda-chuva. 
Tem guarda-chuva pra criança também. Tem guarda-chuva do Batman, do Homem-Aranha, do Harry Potter. E pra menina tem da Madonna, da Anitta, da Mulher-Maravilha. 
Tem sombrinhas também, pra todas as mulheres! É pra todo mundo, é pra todo mundo! E olha freguês, olha o trovão; olha a chuva, a ventania… segurem seus guarda-chuvas, senão vocês vão voar por aí… espere… socorro… socorro… socorrroooo!…
 – Veja mamãe, o homem que vende guarda-chuvas ‘tá voando pelos ares!”…

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Um dia, tudo voltará ao normal

Às vezes me vejo arrancando pétalas, despedaçando pétalas de uma rosa vermelha. Talvez com isso queira mudar o mundo, que insiste em ser mau.

Mas as ondas do mar também querem mudar o mundo mau. Elas invadirão cidades inteiras, inteiras cidades submersas. Todos correrão para os montes… os montes cheios de flores… e todas as flores serão despetaladas!

O mundo mau ficará mais cinza e feio, com muito mais pessoas atordoadas.

Um meteoro ainda cairá no mar, e mais terror causará! As pessoas não terão flores e nem coroas para a hora da morte. O mundo mau vai acabar… Em seu lugar surgirá um mais belo, com mais flores, com um mar mais calmo, e uma pomba branca, com um ramo verde em seu bico, para (re)semear a vida nos montes, vales e nas planícies!

Um dia, tudo voltará ao normal!

Camarote

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Hoje eu estou meio assim, vivendo como se fosse numa redoma de vidro, vendo tudo ao meu redor de camarote. Vejo loucos de todo tipo. Novos com ideologias políticas ultrapassadas, levando o país pra idade das trevas; velhos estressados por coisas mínimas, outros nervosos por causa de parafernálias eletrônicas, que a mão humana ou a razão não consegue resolver. Hoje eu estou meio aéreo, como que vivendo dentro de uma redoma de vidro, vendo tudo e todos ao meu redor. Pessoas malucas, com comportamentos alucinados. A vida é tão lenta, e calma, e ao mesmo tempo tão quente. As peças humanas são postas num enorme tabuleiro, e ela, a vida, fica mexendo os pauzinhos, dando corda, deixando cada individuo ir pra qual direção se sinta impulsionado. Cada vez mais vou chegando a uma convicção que somos avatares numa enorme tela de computador. Estamos na vida para jogar, e sermos “jogados” por alguém. Não sei qual seria o destino final dessa história. Há quem diga que estamos num “Bug”, pois nossa vida está num eterno nascer, viver e morrer. E que precisaríamos reverter o processo, para seguirmos em frente. É muita coisa por debaixo do pano, que não nos deixam aprofundar. E como eu disse, hoje eu estou numa espécie de uma redoma de vidro, vendo tudo ao meu redor. Tantas pessoas nervosas, principalmente por causa do trabalho, já que vivemos um momento difícil na nossa empresa estatal, graças a escolhas políticas mal feitas. A calma é primordial na vida de todos, mas nem sempre temos a escolha desse estilo de viver. Por natureza somos brutos, principalmente por nossos sentidos terem de estar sempre atentos ao que ocorre ao nosso redor, pois nesse nosso jogo computadorizado, a riqueza em contraste com a pobreza, dita todas as regras; até mais por sobre o amor, ou o bem e o mal. Quem tem dinheiro, tem poder, e está acima dos outros. No pensamento nosso, claro; pois os mais fortes, mesmo ricos, não possuem esse mesquinho pensamento. E eu continuo aqui, dentro da minha redoma de vidro, vendo a vida ao meu lado, passando livremente, com pessoas nervosas, calmas, e ou desleixadas com toda essa situação. E eu continuo olhando!

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Em busca da glória

Era domingo, numa daquelas tardes de verão a vapor, com os termômetros na casa dos 32 graus. E os meninos ali, na fila do cinema.
Estavam ansiosos pela estréia que iriam ver! A expectativa era enorme. Enorme também era a fila! Chegava a dobrar o quarteirão! De repente, um táxi pára com uma freada brusca! Dele desce um homem de terno e vai logo falando muito nervoso para os meninos:
– Crianças, crianças, vocês precisam me ajudar! Vocês precisam me ajudar a encontrar a glória! Se eu a encontrar, todos serão felizes!!!
Laupinho pergunta:
– Que glória, moço??
– A glória, guri! Se a encontrar-mos será um degrau a mais na nossa vida! Venham comigo, o táxi está à minha disposição!
Os meninos não entenderam nada. Mas ficar ali, naquela fila enorme, com aquele calor, estava por fora. Entraram no táxi, se espremeram no banco de trás e lá foram eles rodar por todo o bairro em busca da glória!
Lili pergunta baixinho: – Ei gente, quando encontrar-mos a glória, o que faremos?
– Ora Lili, seremos os meninos mais famosos do bairro!
– Vamos ¨sair¨na televisão!
– E ganharemos muito dinheiro!
E o táxi seguia por todos os lugares importantes do bairro; parava, o homem de terno descia e ficava feito louco olhando em todas as direções e gritando e gesticulando:
– Alguém viu a glória?! Eu estou em busca da glória! Você viu a glória?
Os meninos também desciam. Ajudavam as velhinhas e os ceguinhos a atravessarem as ruas; davam trocados para os mendigos, não pisavam na grama, e  muitas outras boas ações. Assim, quem sabe, receberiam a glória!
Quando entraram novamente no táxi, o homem de terno lhes disse, ainda mais nervoso:
– Meninos… acabei de dar um telefonema-chave agora! Com esse telefonema eu acho que a glória não escapa de mim!
– E onde ela está então??? – Pergunta Juliudu.
O homem de terno estende a mão e toca o ombro do taxista. O motorista faz uma manobra de 360 graus e vai à toda velocidade. Será que finalmente os meninos encontrariam a glória?
O relógio marcava 18 horas. O táxi parou defronte a uma igreja. O homem desceu e disse:
– Eis, meninos! O lugar onde encontrarei a glória!
E parecia que o homem estava com toda a razão, pois o local estava cheio de pessoas. Todas bem vestidas. Ele pagou ao taxista e subiu as escadarias da igreja na maior rapidez do mundo. Os meninos foram atrás. Queriam estar bem próximos quando o homem encontrasse a glória!
Quando entraram na igreja viram que todas as pessoas presentes suspiraram aliviadas. E os meninos entenderam que se tratava de um casamento.
– E o padre dizia para o homem de terno:
– Senhor fulano de tal, aceita Maria da Glória como sua esposa?
Os meninos não acreditaram. Sentaram na porta e ficaram a dizer:
– Esse homem deve ser louco, gente. A tal Glória que ele tanto procurava era  a sua noiva! Que história mais complicada!
Eles se levantaram, e quando iam embora aparece novamente o homem:
– Crianças, obrigado por me ajudarem a encontrar a minha Glória! Tem um salão ali do lado da igreja. São meus convidados para a festa!
E os meninos riram à toa e disseram:
– Se não se pode com os loucos, junte-se a eles!!
– E será a nossa glória!!!

Ei pessoal, um abraço. Taí mais uma história de minha autoria que foi publicado no extinto Jornal diário da Tarde de BHz. Era o ano de 1997, num sábado dia 19 de abril. O DT, como era carinhosamente conhecido, abria espaço a novatos aos sábados. Eu era um participante ativo, com histórias infantis, e tirinhas, como a do Rauf, um cachorro em aventuras e desventuras. A ilustração original desse conto no jornal, foi do Son Salvador, e por algum erro de edição, seu nome não foi incluído nessa ilustra. Então fica registrado. Son Salvador ilustrou várias histórias minhas, publicadas no DT. Deixo agora a capa e contra capa do suplemente que fazia parte do DT, Sábado Revista, onde esse material era exibido. Tem inclusive uma tirinha do Biriba, um macaquinho legal, criação e produção do Quinho, excelente cartunista das Gerais.  Continuar lendo

Se Eu Pudesse

Da minha casa eu vejo uma outra casa. São duas da madrugada, e eu estou sem sono.
Da minha casa eu vejo uma outra casa. As luzes ainda estão acesas. E na varanda, dentro de uma gaiola, um passarinho pula incessantemente. De um pedal ao outro. Ele está confuso, pois deveria estar dormindo. Mas as luzes acesas o deixam perturbado.
Ele continua pulando de um lado para o outro. Eu vejo, e nada posso fazer. Eu estou na minha casa, e ele, em outra casa. De repente me vem um pensamento. Eu, falando para o passarinho:
–  Se eu pudesse, com a minha mente, fazer a minha mão, ir até aquela lâmpada, e apaga-la…
Mas não posso, e não consigo fazer isso…
De repente eu ouço o passarinho piar. Piados nítidos chegam até meus ouvidos. A madrugada silenciosa falando com você… Talvez ele esteja me agradecendo, por esse pensamento bom que eu tive para tentar lhe ajudar.
Passarinho, passarinho… tenha força; cante muito, que esse mundo é seu!

Mergulho

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Estou sentado no sofá lendo meu jornal diário… mas minha cabeça, a mil por hora, não consegue concentrar nas notícias…
Amasso todo o jornal com as duas mãos, fazendo dele uma bola, e lanço-o em direção à lixeira…
erro feio, e ele cai fora… levanto numa rapidez fora do normal, e lhe taco um chute…
mas que azar… acerto a bola de folha de jornal, mas meu sapato vai junto, em direção à vidraça da janela, fazendo-a em mil pedaços…
ponho as mãos na cabeça; que loucura que fiz, penso eu… me aproximo da janela, e vislumbro um céu todo azul, iluminado por um sol quente e brilhante… salto, pulo, sem pestanejar… e vou caindo, caindo, e mil imagens vão se formando na minha cabeça… tantas, tantas, que eu fico meio perdido…
passa-se mais um segundo, e eu não me lembro de mais nada….
espere… vem agora uma manchete que eu li no jornal agora à pouco…

JOVEM DESPENCA DO 20º ANDAR DE EDIFÍCIO NO CENTRO
DO RIO DE JANEIRO…

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(Essa crônica foi escrita ouvindo a música Lady Don’t Mind da Banda Talking Heads pelo Youtube)

Morrer

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Morrer…

Deve ser triste que nem uma segunda-feira chuvosa… ou uma tarde cinza de domingo; de um domingo que você espera triste pela segunda-feira… (Você queria que o final de semana nunca chegasse ao fim)… pois no outro dia, ter que enfrentar ruas abarrotadas de carros… milhares de pessoas… tantos rostos… (muitos você nunca mais verá pelo resto de sua vida…)

Que vontade de ficar preso dentro de um elevador, a semana inteira… ou então, nunca desembarcar do ônibus, do Uber, do Táxi, ou do seu próprio carro; e ficar nessa viagem eterna, pelas mesmas ruas, mesmas casas, mesmos prédios, mesmas músicas velhas…

Como uma segunda-feira se parece com um domingo… um domingo cinzento, chuvoso e frio… mas agora… morrer num dia ensolarado, não deve ter graça nenhuma…

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